quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Elas podem esperar...

-Que horas são?

Ela perguntou saindo do banho envolta na toalha.

-Nove e meia. Que horas vocês combinaram de se encontrar?

-As dez. Mas com certeza as meninas vão chegar aos poucos.

Ele sentado na cama, as pernas esticadas, papel e caneta na mão, acompanhava com os olhos ela andando pelo quarto enquanto se arrumava.

-Sabe, ainda é meio estranho me acostumar com a idéia de estar casada, às vezes parece que a ficha não caiu.

-Eu notei, por exemplo isto lá são horas de uma mulher casada sair de casa?

O tom de brincadeira a fez sorrir também.

-É só uma conversa com minhas amigas, faz tempo que não nos vemos. Ela responde sentando aos pés da cama com o secador de cabelos na mão.

Ele baixa a cabeça e volta a rabiscar algumas palavras no papel.

O barulho do secador não o deixa se concentrar, levanta então os olhos e volta a observá-la, desta vez imóvel fitando suas costas nuas.

-E a música que estava escrevendo, acabou? Pergunta ela demonstrando real interesse e olhando-o pelo espelho.

-Ainda não, o que na verdade acabou foi a criatividade.

Ela sem tirar os olhos dele:

-E você vai continuar aí então olhando para o meu bumbum?

-É o que eu pretendo.

E levantando os olhos até encontrar os dela, deu um sorriso malicioso que a fez também sorrir.

-E já que você tocou no assunto, tive uma idéia genial. Como estou querendo perder alguns quilos, resolvi cortar uma das minhas refeições.

E ela sem entender muito bem, dá corda ao assunto:

-Como assim? Vai viver só de luz?

-Cortar não, vou substituir. Vou substituir uma de minhas refeições por sexo. E como você é uma das principais envolvidas nesta empreitada, achei importante lhe comunicar.

Ela tenta, mas não consegue conter a gargalhada.

-Combinado, desta forma eu também perderei alguns. Respondeu em meio aos risos.

-Levando-se em consideração que se gasta cerca de 110 calorias por hora numa atividade sexual. Dentro de alguns meses serei um tri atleta, quer dizer, seremos.

-Não sei de onde você tira essas idéias malucas.
Ela agora revira o guarda-roupa, tentando decidir-se entre suas calcas jeans.

-Sabe, andei pensando que em dois anos seria uma boa época para termos filhos.

Ele por um momento retira o sorriso dos lábios, toma uma aparência séria.

-Acho que ainda é cedo, você e eu ainda estamos começando a carreira, precisamos nos estabilizar mais.

-Mas eu não quero ser mãe muito tarde.

-Eu entendo. Então ligue para suas amigas e cancele o encontro, vamos discutir sobre o assunto. E o sorriso mais uma vez entrega seu tom de brincadeira.

-Você não fala nada sério mesmo, não é?

E volta a andar pelo quarto, a calca já vestida e o tronco ainda nu.

-E por falar em carreira, estou pensando em me demitir e montar o meu próprio escritório.

-Mas você está só começando a carreira, por que já quer seguir sozinho?

-Porque quando tivermos filhos, terei o tempo que eu quiser para ficar com eles.

-Você está sendo precipitado, vai ter todo o tempo do mundo para isto, não precisa que seja agora.

-São só idéias por enquanto, nada que eu vá decidir já amanhã.

Ela já vestida e sentada aos pés da cama, dá os últimos retoques na maquiagem e cabelo. Olha para o relógio, mas não se apressa.

-Pronto, acho que está na hora. E quanto a você, comporte-se enquanto eu estiver fora.

-Prometo me comportar. Mas tem certeza que não quer ficar e discutir sobre as crianças?

Ela vai em direção a ele para se despedir. Ele fitando-a nos olhos o trajeto todo dos pés da cama até a cabeceira. Ela se inclina sobre a cama para beijá-lo. Ele pega-a pela nuca. Ela suspira, o beijo demora mais do que havia planejado. Segue então até a porta do quarto, ele observando-a sem tirar os olhos por um instante. Ela sai do apartamento, entra no elevador e aperta o botão do térreo. Olha-se no espelho, arruma alguns pequenos toques da maquiagem e algumas passadas de mão nos cabelos.

Encosta-se na parede lateral enquanto o elevador desce, revira a bolsa procurando as chaves do carro e pega na mão um par de sapatos de bebê, destes recém nascidos, que mais parecem dois chaveiros. Leva-os até o nariz para sentir aquele cheiro inconfundível de criança, e devolve-os na bolsa. Pega depois uma foto deles, tirada há pouco tempo, em que não há nada de especial, além de dois umbigos. O dele, e o dela. Lembra-se ainda de quando foi tirar a foto, os dois deitados lado a lado na grama do parque, levantando a camisa e ele com a máquina fotográfica apontada para os umbigos: “Diga xis”.

O elevador abre a porta, ela desencosta-se da parede lateral e se põe pronta para caminhar. Olha para porta da rua, nota que uma garoa fina e quase imperceptível está caindo. Detém-se então por alguns instantes naquela posição. Ereta, a foto em mãos e olhando para a porta. Um senhor de idade, que ela não se lembra de já ter visto no condomínio aparece na porta.

-Sobe?

Ela volta a olhar a rua, prende a respiração por alguns instantes que parecem intermináveis fazendo o senhor franzir as sobrancelhas em desentendimento.

Ela solta a respiração e deixa escapar um sorriso.

-Sim. E aperta o oitavo andar.

Entra em casa sem dizer nada, deixa cair a bolsa e a foto no chão ao lado da cama, tira os sapatos, entra debaixo do lençol e volta a beijá-lo.

3 comentários:

Unknown disse...

vc mudou o final?!

gostei mais desse! ;)

bjo,
ana

Unknown disse...

Mudei não, é o mesmo. O outro que o velho volta e mata o cara, foi invenção da sua cabeça...rs
Aliás, preciso mudar esse título, que tá horrível, e revisar algumas coisas ainda deste texto.

Andre Barbosa disse...

Gostei da história de trocar uma refeição por sexo, vou fazer uma nota mental para usar depois.